Kemet

Período pré-dinástico

O período pré-dinástico (anterior ao ano 3100 a.C.) é tradicionalmente aceito como o período compreendido entre o neolítico antigo e o início da monarquia faraônica iniciada pelo rei Menés (ou Narmer). As datas do período pré-dinástico foram inicialmente definidas antes da escavação geral do Egito ter ocorrido, e descobertas recentes mostram que o curso de desenvolvimento pré-dinástico foi muito gradual provocando nos estudiosos uma discussão sobre quando exatamente terminou o período pré-dinástico.O período pré-dinástico é usualmente dividido em períodos culturais que ganharam o nome do lugar onde um determinado tipo de assentamento egípcio foi localizado. Contudo, o mesmo desenvolvimento gradual que caracteriza o período protodinástico está presente durante todo o período pré-dinástico e as individuais "culturas", não devem ser entendidas como entidades separadas, mas divisões, como em grande parte subjetivas, utilizadas para facilitar o estudo de todo o período.
A maioria dos sítios arqueológicos escavados no Egito provém do Alto Egito, pois as inundações do Rio Nilo foram mais fortes na região do Delta, e a maioria dos sítios do Delta do período pré-dinástico já foram enterrados por completo.


Neolítico
A contínua desertificação forçou os primeiros ancestrais dos egípcios a assentarem em torno do Rio Nilo mais permanentemente e forçou-os a adotarem um estilo de vida mais sedentário, com base em práticas agrícolas e de domesticação animal; também foi um período marcado por crescentes migrações estrangeiras causadas pela desertificação do Saara. Apesar dos sítios arqueológicos revelarem pouco sobre esse período, uma verificação de muitas palavras egípcias para cidades pode oferecer uma lista hipotética de razões pelas quais os egípcios se assentaram. No Alto Egito, as palavras para cidades indicam que funcionaram para o comércio, proteção contra animais e inundações ou, como locais sagrados para os deuses.
A agricultura abriu um leque de transformações para as culturas neolíticas: a possibilidade de gerir seu tempo livre abriu caminho para o artesanato; a crescente necessidade de maior mão-de-obra nas lavouras ou a domesticação de certas espécies animais fez com que as populações crescessem rapidamente; o avanço da produção agrícola e da reprodução animal em cativeiro possibilitou alimentar grandes grupos de pessoas; o armazenamento e a produção excedente facilitou a sobrevivência das comunidades em estações climáticas adversas; os primeiros líderes começaram a surgir em vista da organização social mais complexa; práticas religiosas se tornam especializadas; os animais passaram a fornecer mais do que carne: leite, pele, chifres e ossos também foram obtidos.
Em torno do ano 6000 a.C. os grupos humanos começaram a crescer em número e assentamentos neolíticos surgiram por todo o Egito; estudos genéticos e arqueológicos mostram migrantes do Crescente Fértil retornando durante o neolítico egípcio e norte-africano, trazendo a agricultura para a região. Contudo estudos morfológicos ligam as populações agrícolas egípcias do período para locais norte-africanos do Nilo, especialmente porque em outra regiões na África a agricultura desenvolveu-se independentemente: Planalto da Etiópia, Sahel e África Ocidental. Dados arqueológicos sugerem que animais domesticados do Oriente Próximo foram incorporados a uma estratégia pré-existente de forrageamento e só lentamente se desenvolveram em um completo estilo de vida, ao contrário do que seria esperado de colonos assentados do Oriente Próximo. Além disso, a ausência de nomes sumérios ou proto-sumérios para os animais domesticados egípcios diminui ainda mais a chance de uma colonização em massa de imigrantes do Baixo Egito durante a transição para a agricultura.


Deserto Oriental
Os principais sítios do deserto Oriental são a Caverna Sodmein e o Abrigo da Árvore, ambos reocupados em 7000 a.C., momento onde foi evidenciada uma melhoria das condições climáticas locais. A caverna Sodmein foi ocupada até 6100 a.C., enquanto que o Abrigo da Árvore continuou por mais tempo, até 5000 a.C. Segundo Vermeersch et al "Durante este período, as pessoas ou ideias parecem mover-se sobre uma área muito grande do deserto ocidental sobre o Vale do Nilo para as montanhas do Mar Vermelho".


Caverna Sodmein
A caverna Sodmein, uma localidade utilizada durante o epipaleolítico, possui diversas camadas neolíticas de natureza principalmente orgânica; entre os restos orgânicos encontrados estão restos arbóreos (acácias e Tamarix) e faunísticos (gazelas-dorcas, damões-do-cabo, insetos, roedores, ovinos, caprinos). Houve domesticação de ovinos/caprinos que, segundo Vermeersch et al, foram introduzidos do sudoeste asiático por volta de 7000 a.C.
Lascas retocadas e entalhadas, raspadores laterais, instrumentos bifaciais, lâminas e microlâminas, pontas de flecha e foliates compõem a indústria lítica da caverna; cacos de cerâmica e mais de vinte lareiras foram identificadas em diversos substratos. A cerâmica, polida com areia vermelha, tinha uma coloração que ia do vermelho escuro ao castanho e era decorada com incisões em zigue-zague.


Abrigo da Árvore
Abrigo da Árvore é uma pequena saliência rochosa do deserto oriental composta por numerosas lareiras, uma delas formada por um pequeno fosso cheio de carvão e pedras queimadas. Os restos faunísticos são pobres e incluem gazelas-dorcas, ovinos/caprinos, moluscos e peixes do Mar Vermelho. Lascas retocadas, denticulados, bifaciais, pontas de flechas e lascas golpeadas lateralmente compõem a indústria lítica; é uma indústria de trato rudimentar, com uma técnica áspera que produziu, assim como na caverna Sodmein, ferramentas de má qualidade.


Deserto Ocidental
Saara

Povoamentos neolíticos prosperaram no Saara Central, Sul do Saara e no Deserto Ocidental, ao sul do Oásis Kharga e foram divididos em três períodos: Neolítico Inferior (8800-6800 a.C.), Neolítico Médio (6600-5100 a.C.) e Neolítico Superior (5100-4700 a.C.)

Neolítico Inferior

Há predominância de sítios sazonais localizados em Nabta Playa (foto a direita) e Bir Kiseiba grandes e pequenos habitados por caçadores, coletores e criadores de animais; os sítios são compostos por casas ovais e circulares com fornos e poços para cozinhar e silos. A habitação de tais assentamentos esteve ligada às mudanças climáticas ocorridas ao longo do período: fases úmidas (El Adam; El Nabta; El Jerar) foram intercaladas por fases secas (El Ghorab).
Lâminas, ferramentas geométricas, ferramentas de estilo microburil, mós, fragmentos de cerâmica decorada com linhas e pontos e cascas de ovo de avestruz utilizada como recipientes são algumas das produções locais. Os animais domésticos forneciam leite e sangue, enquanto a caça fornecia carne e a coleta, as plantas; bovinos, lebres, gazelas-dorcas, grãos (sorgo, milheto), jujubas, sementes de leguminosas e possíveis tubérculos, acácias e tamargueiras são alguns dos restos orgânicos que foram encontrados. Aparentemente os pastores do Saara "parecem ter seguido o moderno modo africano de pastoreio em usar seus animais como fontes vivas de proteínas (leite e sangue) e não para a carne". Além disso, os restos vegetais descobertos "não tem paralelo em sítios desta idade na África, e tem muito poucos iguais em qualquer lugar do mundo" e representam "uma flora subdesértica ou saheliana".

Neolítico Médio


Este período, assim como o anterior, é caracterizado por fases úmidas intercaladas por fases áridas; segundo Friedman houve apenas uma única fase árida datada em 6000 a.C., quando houve uma quebra na ocupação do Deserto Ocidental "depois que o tempo a vida poderia ir apenas ir em alguns lugares ecologicamente favoráveis como Gilf Kebir" O maior sítio deste momento é Nabta Playa. Vasos polidos, cerâmica do tipo "Cartum" (vasos globulares cobertos com linhas elaboradas e onduladas), foliates, pontas de flechas de base côncava, lunates e outras ferramentas geométricas são alguns dos produtos produzidos durante o período.


Neolítico Superior
Foram erguidos alguns alinhamentos megalíticos em Nabta, sendo o chamado "Círculo do calendário" o mais conhecido: é composto por três alinhamentos de 30 arenitos e um conjunto de oito túmulos com lajes. Segundo Friedman: "A evidência de Nabta sugere que o deserto, mais do que anteriormente realizado, contribuiu para a formação intelectual e as ideias que fizeram possíveis as pirâmides". Também em Nabta Playa foi atestado um cemitério conhecido como Galel Ramlah, composto por três zonas de sepultamento humano com inumações primárias e secundárias. O espólio tumular inclui cerâmica, pedra de chão, adornos pessoais, pigmentos, chifres de animais. Dois túmulos foram tratados de forma específica: "Além de reunir os ossos de cada indivíduo para enterro, parece que os ocupantes neolíticos da bacia também tentaram substituir dentes que haviam caído dos alvéolos durante o manuseio. Esta ação foi percebida por vários dentes estarem fixados em posições anatômicas incorretas. A interpretação do fato é que "embora o conhecimento anatômico tenha sido deficiente, a sepultura Gebel Ramlah difere reverência a seus mortos (...) pode ter sido um fator na coleta e reinserção dos dentes".
Foram identificados mós do tipo bacia, celtas polidos e lixados, lâminas, paletas cosméticas, ornamentos foram produzidos. A cerâmica é polida, lisa e possui coloração preta no topo. Segundo Vermeersch "A razão para esta transição súbita não é de forma óbvia, mas a sua ocorrência no Deserto Ocidental é de grande importância para nossa compreensão da origem das culturas pré-dinásticas no vale do Nilo".

Gilf Kebir


O planalto de Gilf Kebir, localizado a 640 km a oeste do vale do Nilo, é atravessado por barrancos onde foram identificados restos humanos datados do neolítico e artes rupestres como na foto ao lado; em Wadi el-Akhdar e Wadi Bakht, ambos bloqueados por dunas, em períodos climaticamente favoráveis abrigaram playas, ou seja, reservatórios naturais de água. "Os sedimentos lacustres cobriam uma área de 6600m2. Por volta de 3800 a.C. Esses sedimentos playa se tornaram tão espessos que a barragem foi interrompida após chuvas pesadas". Com base em estudos nos sítios de Wadi el-Akhdar foi determinado que "a maior parte deles encontra-se na área dos sedimentos playa na parte mais baixa do planalto, onde a água periodicamente poderia ser recolhida". Segundo Schon "a situação nas dunas bloqueantes é obviamente diferente, uma vez que estas são cobertas com artefatos que, evidentemente, não aparecem como as concentrações reconhecíveis". A diferença entre o tamanho e densidade de artefatos nos sítios, segundo Linstadter, "indica claramente um diferente comprimento ou intensidade de assentamento".
O material datado do neolítico na região foi dividido em duas fases (Neolítico Médio e Neolítico Superior) por Linstadter e, aparentemente, a ocupação humana na região perdurou aproximadamente 2000 anos (5500-3500 a.C.). Datas obtidas por radiocarbono dos sítios de Gilf Kebir "sugerem atividades de colonização intensiva entre 6000 e 4700 a.C. As datas para Wadi Bakht parecem ser um pouco mais recentes do que as de Wadi el-Akhdar". A economia local baseava-se na caça, domesticação e aquisição, esta última, segundo Linstadter, muito diferente nas fases Neolítico Médio e Final: "De acordo com essa distribuição local um sistema concêntrico para o Neolítico Médio, com a barreira duna no centro e oficinas na periferia é aqui proposto. A distribuição local no Neolítico Superior mostra (...) com vários campos e oficinas encostadas". Além disso, segundo Linstadter, a matéria-prima empregada na indústria lítica não era obtida localmente, contudo, obtida na região do planalto: "Para além do que esperávamos, as oficinas líticas foram acompanhadas por parques de campismo adequados. Evidência de cerâmica, implementos mós e construções de casas sugere uma longa estadia desses grupos".
Dois sítios de Wadi el-Akhdar (81/4 e 81/14), escavados por Schon, não foram classificados com base na divisão de Linstadter e geraram os seguintes artefatos: 81/4 produziu diversas ferramentas em quartzo (brocas, raspadores e denticulados com retoque lateral) de 10 cm ou maiores; 81/14 gerou muitos triângulos micrólitos; a cerâmica localizada é subdividida em dois tipos (com linhas onduladas e com as laterais e a base pontudos). Pedras localizadas no leste do planalto, aparentemente foram deslocadas para lá através de intervenção humana, presumivelmente pela falta de tal material na região: "Nenhuma força natural é concebível para o seu transporte, especialmente desde os blocos isolados e erráticos são de forma angular. Aquisição humana parece aqui ter sido óbvio".


Neolítico Médio
Os habitantes viviam sazonalmente nos assentamentos, habitando-os durante fases chuvosas, e eram caçador-coletores; caçavam oryx, adax, tartarugas, coelhos e sapos. "O ambiente, nesse momento, aparentemente árido, mas recebeu chuvas raras e pesadas". A indústria lítica é composta por lamelas de quartzito, micrólitos geométricos, furadores, raspadores, lascas entalhadas, lâminas e burils; a cerâmica não era decorada e com temperamentos diferentes.


Neolítico Superior

A indústria lítica é baseada em lascas retocadas e a cerâmica possuía paredes finas, motivos decorativos incisos de espinhas e sua principal forma era de tigelas. A economia era baseada na caça de gazelas-dorcas e na criação de ovinos/caprinos. "As condições ambientais parecem ter sido mais favoráveis do que o Neolítico Médio como chuvas leves que permitiram uma vegetação rala, mas de longa duração para sobreviver".

Cultura Bashendi
A cultura Bashendi, similar ao Neolítico Inferior do Saara, foi identificada no oásis Dakhleh e foi dividida em duas unidades (A e B) representadas por datas obtidas através de cascas de ovo de avestruz e carvão vegetal. Segundo McDonald o "oásis Dakhleh desempenhou um papel formativo nas transformações culturais, incluindo o início do sedentarismo e da agricultura, que varreu o Nordeste da África pouco antes do surgimento da civilização egípcia". Seus sítios estão majoritariamente localizados no extremo leste e sudeste do oásis.
Em torno de 5400 a.C. é evidenciado o início da domesticação animal, então complementada por caçadas; por volta de 4900 a.C. surgem os primeiros edifícios de pedra locais e uma cerâmica polida e suavizada, às vezes com a parte superior pintada de preto, semelhante a modelos de Bir Kiseiba e Nabta Playa. Wenke vê a importância destes sítios: "as primeiras evidências de formas de assentamento, subsistência e tecnologia que diferiram significativamente daqueles do final do Pleistoceno, no nordeste da África vem das áreas desérticas de Bir Kiseiba e Nabta no sudoeste do Egito (...) Essas comunidades egípcias também ilustram a natureza dos processos evolutivos da cultura: mudança cultural e de transformação é um processo intermitente de becos sem saída, fracassos, extinções e apenas ocasionalmente os tipos de pequenas mudanças que resultam, em longo prazo, transformação revolucionária. Por exemplo, aparentemente, essas comunidades egípcias não fazem a transição para uma forma agrícola totalmente sedentária de vida".
Arte rupestre de cavernas locais foi datada do período Bashendi; representa pessoas, imagens antropomórficas e animais, especialmente girafas (são indicativos do clima do período) e bovinos (possivelmente domesticados), e está relacionada com sítios compostos por fragmentos de cerâmica, artefatos líticos e abrigos.


Bashendi A

A unidade Bashendi A, subdividida em dois períodos, desenvolveu-se no intervalo de 6400-5800 a.C.; produziu dezessete datas radiocarbônicas, agrupadas em duas concentrações em torno de 7300-6900 a.C.. Há três tipos de sítios: sítios com lareiras e artefatos dispersos, ligados com depósitos playa (p. ex. sítios #228 e #275); sítios menos ligados com depósitos playa (p. ex. sítios #137, #174 e #270); sítios localizados fora da área do oásis, com lareiras e artefatos dispersos (p. ex. sítio #141). Além disso foi constatado uma nítida diferença entre os assentamentos da fase inicial e os da fase final da unidade: os sítios da fase inicial eram acampamentos sazonais de caça caracterizados por lareiras e artefatos; os da fase final possuem círculos de pedra, possivelmente cabanas, o que evidência um crescente sedentarismo na região, além disso, tais assentamentos apresentam sinais de reocupação.
Com base nos artefatos localizados, e com a escassez de provas contundentes acerca da domesticação animal, sugere-se que a economia era baseada na caça e coleta vegetal; grande número de mós sugere que houve processamento vegetal. Entre os restos orgânicos foram identificados restos faunísticos (búbalus, raposas, gazelas-dorcas, lebres e três aves de tamanhos diferentes, incluindo avestruz) e vegetais (quatro tipos de cereais selvagens, milheto e sorgo); em sítios da fase final desta unidade foram identificados restos de ovinos, caprinos e bovinos. Pontas de flechas (algumas com base oca), bifaciais e muitas lascas, pontas espinhosas, flanqueadas e entalhadas de tamanhos diversos, contas de casca de ovo de avestruz e plugues labiais são alguns dos artefatos produzidos. A cerâmica é escassa, habitualmente não possuía decoração (quando havia era geométrica) e assemelha-se a cultura do Saara.


Hiato entre Bashendi A e B
Entre as duas unidades foi evidenciado, pela arqueologia e pelas datas produzidas, que houve um hiato ocupacional que perdurou por 100 anos, até 5600 a.C. Este hiato foi tardio em relação ao hiato evidenciado em grande número de sítios do deserto no começo do oitavo milênio que, segundo McDonald, "parece correlacionar-se com o episódio árido 7900-7700 a.C. do registro sedimentológico". Além disso, em vista das diferenças aparentes entre ambas as unidade, postula-se que duas culturas diferentes, embora relacionadas, habitaram o oásis em momentos diferentes.


Bashendi B
A unidade Bashendi B desenvolveu-se entre 5600-3800 a.C. e foi contemporânea das culturas Faiumiana, Tarifiana, Merimde e Badariana. A maioria dos sítios está localizada na parte ocidental da bacia, "não no fundo da bacia, mas em suas bordas, acima do atual nível dos lodos playas". Lareiras estão localizadas dispersas nos assentamentos, no entanto, foram identificados agrupamentos mais densos (p. ex. #271 e #276); há sítios associados com lençóis de areia tubulares (p. ex. sítios #101, #104 e #116) e com grande bacias (p. ex. sítios #77 e #165).
Pontas de flechas, pontas, e foliates bifaciais continuam a ser produzidos e novos modelos são adicionados: tranchets, lascas golpeadas lateralmente, crescentes, raspadores, lunates, machados e celtas polidos, contas de amazonita, cornalina, cristal e calcário, pingentes e pulseiras de conchas, paletas pequenas de minério de ferro ou calcário e pedra de chão. A cerâmica era marrom-avermelhada ocasionalmente com a parte superior preta, temperada com quartzo e xisto e possuía decoração geométrica linear ou dentada.
Entre os restos faunísticos foram evidenciados bovinos e caprinos domesticados, assim como gazelas-dorcas e búbalus; segundo McDonald o processo de sedentarização ocorrido no período anterior é abandonado em detrimento de um padrão de subsistência voltado para o pastoreio nômade: "Até o início do sétimo milênio, grupos ainda reconhecidamente Bashendi A tinham adicionado pastoreio para suas atividades de subsistência e foram se estabelecer em um número relativamente grande de sítios agora menos claramente associados com sedimentos playa".


Djara
Djara é o nome atribuído a um sítio caverna e suas imediações, em grande parte localizadas em uma depressão de 400 km de diâmetro cercada por colinas calcárias; a 150 km da localidade situa-se um depósito playa. Está situada na borda de um planalto que estende-se do Vale do Nilo ao oásis Abu Muhariq, uma região hamada dividida por uma duna de 600 km. Durante o neolítico a paisagem era caracterizada por um vegetação esparsa em torno de um lago efêmero: "Durante o Holoceno inicial e médio de Abu Muhariq Planalto (...) não era um ambiente fácil de viver"; "o deserto secando e o fim da ocupação da unidade do Holoceno médio em torno de 6000 a.C. oferece um terminus ante quem para a ocupação e arte rupestre de Djara". Com base nos paralelismos evidenciados entre Djara e outras localidades (artefatos e cerâmica), Kuper conclui que "com esta composição específica do seu espectro de artefato e sua posição geográfica entre os oásis e o Nilo, o sítio de Djara parece ser capaz de fazer uma contribuição essencial para o relacionamento cultural e cronológico entre o Saara e o Vale do Nilo".
A caverna (conhecida arqueologicamente como 90/1) é composta por estalagmites e estalactites, assim como "uma peculiaridade geomorfológica para regiões desérticas". Foram identificados núcleos (associados com lareiras), bifaciais, pontas de flecha, incluindo em forma de folha, furadores, raspadores e facas; a cerâmica é simples. A arte rupestre da caverna tem animais (avestruzes, adax, antílopes, bovídeos e caprinos), figuras humanas e símbolos como seus temas representativos; muitas figuras animais, com base em sua forma, são possíveis idealizações. Os restos faunísticos identificados (especialmente gazelas-dorcas) ressaltam a importância da caça, contudo, a presença de um osso de caprino domesticado mostra que tal prática já era praticada.
Na entrada da caverna (sítios 90/1-1 e 90/1-2) foram identificados artefatos líticos produzidos com núcleos líticos diferentes (especialmente quartzito e calcário) e com uma técnica de retoque facial utilizando lascadores; as principais formas são facas, pontas, raspadores, perfuradores, plainas, lascas lateralmente golpeadas. Um conjunto de 69 sítios sazonais foi localizado nas imediações dos lagos efêmeros e muito provavelmente serviram para exploração e manufatura de núcleos líticos; estes foram divididos em duas fases: Djara A e Djara B.
Djara A é principalmente formado por mós, pontas de flechas e brocas retocadas, raspadores finais retocados em lascas e raspadores laterais todos feitos de sílex. Djara B é caracterizada por plainas, pontas e facas bifaciais retocadas e lascas laterais convexas utilizadas para produção de facas e raspadores laterais; a cerâmica era rara, tinha paredes e textura fina e uma cor cinza.


Abu Gerara

Abu Gerara é a região montanhosa do planalto Abu Muhariq entre as planícies hamada no norte e as escarpas Abu Gerara no sul; os sítios locais situaram-se tanto nas planícies locais como na zona escarpada: "Durante a fase úmida do Holoceno o relevo do país proporcionou um moderado escoamento das águas superficiais nas bacias rasas após as chuvas episódicas". A subsistência do período não é clara mais os tipos de ferramentas e ossos de gazelas-dorcas e lebres sugerem uma subsistência a base da caça destes animais.
Foram identificados três tipos de sítio: pequenos compostos por montes de lareiras e alguns artefatos; ateliês localizados próximos de afloramentos líticos para exploração; acampamentos formados por grandes ferramentas dispersas e detritos. A indústria lítica era composta por mós, pontas de flechas de diferentes tipos, perfuradores, lascas, enxós, raspadores laterais, denticulados, facas, celtas, brocas, foices bifaciais e clavas feitas de sílex cor creme, acinzentada ou acastanhada. A cerâmica, majoritariamente não decorada, possuiu cinco tipos de textura: o primeiro grupo possui paredes finas de cor marrom-avermelhado ao cinza com núcleo cinzento e temperamento com material orgânico ou areia; o segundo grupo têm paredes médias de cor marrom-amarelado e temperamento com areia e xisto com grãos vermelhos; o terceiro grupo é semelhante ao segundo, mas com temperamento arenoso diferente; o quarto grupo apresenta cor marrom ou marrom pálida e temperamento grosseiro com xisto; o quinto grupo contém núcleo negro e temperamento com areia e palha.


Farafra
Em Farafra, especialmente no vale Hidden, diversos sítios datados do Holoceno médio e superior (7000-6500 a.C.) foram localizados. O sistema de assentamento foi o sistema do Holoceno médio "composto por uma 'aldeia' e uma área de fornecimento complementar para as matérias-primas utilizadas na manufatura de líticos"; tal sistema também é acompanhado por uma caverna decorada. A presença de diversos yardangs e piscinas efêmeras prova que a região foi alvo de precipitação abundante durante dadas fases do Holoceno. Aparentemente os habitantes das localidades viviam de pastoreio nômade e possuíam afinidades com Nabta Playa, tendo, em certo ponto, influenciado o Vale do Nilo: "o vale do Nilo foi inicialmente influenciado pelas regiões orientais do Saara, e só mais tarde foi afetado por influências do Oriente Próximo".
A aldeia localiza-se na costa de um antigo depósito playa e é composta por habitações líticas circulares, algumas com várias lareiras; a caverna, classificada como cárstica, possui representações de cabras, gazelas e girafas, um barco e mãos humanas. Entre os restos orgânicos estão restos arbóreos (Acácia, Tamarix), cereais (Echinochloa colona, Panicum, Cenchrus, Brachiaria, Setalia e sorgo) e faunísticos (ovinos, caprinos, gazelas-dorcas e avestruzes). A indústria lítica é composta por foices, serras, pontas de flecha, denticulados, micrólitos, plainas, raspadores, facas e mós;ovos de avestruz, uma estatueta de argila e fragmentos de cerâmica também foram identificados.


Vale do Nilo
O neolítico do vale do Nilo é caracterizado pelo surgimento da agricultura (os vestígios mais antigos de tal prática provém de Faium), no entanto, a falta de evidencias ocupacionais datáveis do milênio VI a.C. no Vale do Nilo dificulta a total compreensão de tal fenômeno: "A falta de depósitos geológicos no vale do Nilo ao norte de Aswan, que podem ser datadas entre 8000 e 5000 a.C. dificulta a compreensão dos princípios de uma economia de produção de alimentos nesta área (...) Tem sido apontado, muito corretamente, que não há razão para acreditar que as culturas Faium A e Badariana são necessariamente as mais antigas culturas produtoras de alimentos nesta parte do Vale do Nilo". Seidlmayer sugere que embora ainda hoje não exista evidência artefactual, "a originalmente característica heterogenia do neolítico egípcio pode ser explicada somente se ela surgiu dessa maneira".
A economia do Vale do Nilo era baseada na domesticação animal (bovinos, caprinos, suínos e ovinos; iniciada em 10000 a.C.) e na agricultura (trigo e cevada), práticas até mesmo em períodos tardios complementadas pela caça e pesca; as primeiras técnicas de curtume de peles foram desenvolvidas. A agricultura surgiu em um momento marcado por melhorias das condições climáticas: em torno de 5000 a.C. lençóis freáticos do Saara evidenciam gradual elevação, contudo, em outros lugares da África é possível constatar que corpos d'água secaram durante o período. Além disso, a partir de 7500 a.C. (5000 a.C.) são evidentes os sinais de agricultores em tempo integral: "A agricultura tem inércia tão grande, porque uma vez que as pessoas começam a fazer e usar grandes mós, silos de armazenamento de grandes grãos, foices, e todo o resto do conjunto de ferramentas dos agricultores primitivos, há um forte incentivo para não se deslocar".
A cerâmica tornou-se abundante e o conjunto de ferramentas líticas é alterado (técnicas introduzidas da África, Levante ou sudoeste asiático), contudo, ainda é possível evidenciar a continuidade de sistemas aborígenes: "Enquanto a economia neolítica do Egito parece ser uma extensão da que foi encontrada no Oriente Próximo, um antigo padrão indígena de caça, pesca e utilização de plantas selvagens parece ter desempenhado um importante papel na economia de subsistência do Egito até o período pré-dinástico tardio".

Faium
Cultura Faiumiana

Localização dos sítios faiumianos de Kom W e Kom KA cultura Faiumiana desenvolveu-se entre 5400-4400 a.C. ao norte do lago Qarun, local onde a cultura epipaleolítica cultura Qaruniana prosperou; segundo Vermeersch e Hendrickx "Diferenças tecnológicas e tipológicas entre a Qaruniana e a Faiumiana são tão significativas que não pode haver questão da Faiumiana tendo desenvolvido fora da Qaruniana". Além disso eles argumentam que a indústria lítica Faiumiana está relacionada com as tecnologias tardias do neolítico do deserto ocidental; Midant-Reynes acredita que esta cultura originou-se do Oriente: "Parece possível que o neolítico do Vale do Nilo pode ser surgido do Saara oriental, o Faium poderia, portanto, ter sido uma das primeiras áreas ocupadas no momento do deslocamento das populações em direção ao rio, sob a pressão das condições áridas que prevaleceram no milênio VI a.C. É por essa razão que Kozlowski e Ginter (1989) interpretam a Moeriana (a segunda fase do neolítico de Faium) como um eco tardio destas tradições saarianas, dada a sua tecnologia de lâmina/lamela dos líticos encontrados no oásis Siwa. A Faiumiana (a primeira fase do neolítico de Faium), por outro lado, poderia ter tido as suas origens no Oriente Próximo".
Embora alguns (Trigger) considerem prematuro concluir que a cultura Faiumiana seja a mais antiga evidência agrícola do Egito, ela assim como os sítios do deserto ocidental dão luz as discussões acerca do assunto: "No Faium nós estávamos no limiar de obter vistas extensas de material arqueológico fresco, afetando grandes áreas". Eles podem contribuir para a compreensão das origens da agricultura no Egito ("A unidade Faium A é o que resta das atividades sócioeconômicas dos primeiros grupos de agricultores que exploraram os ambientes naturais do oásis que fica no Norte do Egito, para o oeste do Nilo".), no nordeste africano ("O registro arqueológico do nordeste africano, incluindo o de Faium - pode ter sido subestimado como um recurso para a análise geral das origens agrícolas") e possibilitam a discussão acerca de modelos de adoção natural e propagação da agricultura no geral ("O registro egípcio oferece exemplos importante da evolução independente de domesticados e tecnologias agrícolas que tem muito a oferecer para os atuais modelos de origem agrícola (p. ex. Henry 1989, McCorriston e Hole 1991) e para os determinantes da disseminação (p. ex. Cavalli-Sforza e Feldman 1981) das economias agrícolas").
Os sítios faiumianos foram identificados, especialmente nas margens do lago, em diversas expedições arqueológicas e foram caracterizados por lareiras, grandes quantidades de ferramentas e cerâmica, restos orgânicos e silos (estes cobertos por tapetes ou palha). Segundo Hayes, os habitantes de Faium escolheram seus assentamentos de forma a melhor aproveitar o ambiente lacustre: "Por seus assentamentos as pessoas de Faium A selecionaram sítios no sotavento dos baixos 'buttes' que circundam a costa norte do lago, geralmente perto de uma entrada ou outra reentrância na costa, onde a pesca teria sido boa, e nunca muito longe do nível do trecho da antiga cama do lago em que cresceram suas lavouras modestas". Segundo Caton-Thompson o sítio de Kom W define o Faium neolítico: "Este monte, alguns 600x400 metros de diâmetro, embora não tão prolífico em proporção ao seu tamanho, mobiliou material suficiente para colocar a enigmática 'indústria Faium', finalmente, em seu verdadeiro contexto; pois, contido em seus 5 metros mais ou menos de depósito foram encontrados potes inteiros da mesma face áspera da cerâmica artesanal cujos cacos tínhamos notado em sítios da superfície".
Antes das escavações realizadas por Caton-Thompson em 1924-1925 pouco se sabia sobre a cultura e "o único fato certo e acordado sobre os implementos é a sua disseminação como as ferramentas de pedra e armas das civilizações pré-dinásticas do Vale do Nilo". Inicialmente, especialmente depois das escavações de Caton-Thompson, acreditou-se que a indústria lítica faiumiana era baseada em bifaciais, um erro postumamente descoberto; na realidade, tal indústria foi baseada em lascas produzidas por diversas técnicas (lascagem, descamação por pressão, moagem e polimento) e com diversos materiais (Calcário, sílex, diábase e cinzas vulcânicas). As ferramentas eram polidas, ou ao menos possuíam suas bordas polidas, e o conjunto lítico era composto por diversas formas: uma infinita variedade de pontas de flechas de base côncava, pontas de flecha bifaciais e pontas em forma de folha, machados, entalhes, denticulados, raspadores laterais, lascas retocadas, microlâminas e componentes micrólitos (especialmente lamelas), enxós, ferramentas com lâmina (incluindo foices) e lâminas apoiadas. Kozlowski e Ginter, após analisarem os líticos da cultura concluíram que "A Faiumiana pode ser percebida - pelo menos nas evidências de material obtido até agora - como uma unidade homogênea, pouco diferenciada tipologicamente".
A cerâmica era feita com lodo, polida, de cor vermelha ou preta, temperada (palha, fibra, areia, conchas ou pedras trituradas) e não tinha decoração; as formas encontradas em Kom W e Kom K foram dividias em cinco grupos: tigelas e potes, taças e copos, pratos retangulares com bordas, copos com pedestais, copos com pés nodosos; em Qasr el-Sagha potes com barrigas hemisféricas ou esféricas, distintivos pescoços e asas invertidos e pratos achatadas foram localizados. A tecelagem foi evidenciada pela primeira vez nesta cultura; produzia excelentes cestas utilizadas como suportes para vasos ou forros de silos.
Em Kom W e Kom K foram encontrados diversos artefatos característicos: pilões e almofarizes (arenito), paletas (diorito e calcário), objetos feitos com pedra, osso polido, dentes de tubarão, conchas e casca de ovo de avestruz, discos de pedra furados, contas e miçangas de amazonita e feldspato verde: "A maioria dos implementos de pedra de chão encontrados nos sítios de Faium A refletem os componentes agrícolas e artesanais da sociedade e incluem mós para moer grãos, almofarizes, martelos de pedra, polidores para polimento da cerâmica, rodas discoides para tecer fios de linho que já era cultivado na área. ornamentação, embora esparsa por padrões egípcios superiores, é refletida por pequenas paletas de pigmentos e contas de pedra, enquanto algumas taças de pedra sugerem o início desse ofício no norte do Egito". Foram identificadas pontas e arpões produzidos com ossos e marfim.
A cultura Faiumiana tinha uma economia baseada na agricultura (cevada, trigo, Hordeum, linho) e criação animal (bovinos, caprinos, ovinos, suínos, cães), complementada pela caça (elefantes, hipopótamos, crocodilos, gazelas-dorcas, antílopes, raposas, tartarugas, lebres, aves aquáticas, caramujos, lagartos, cobras) e pesca (bagres, percas, mexilhões); a caça e a pesca foram de extrema importância para os faiumianos, uma vez que padrões de pesca adotados durante a cultura Qaruniana foram mantidos: "Ambos os grupos Faium A e B parecem ter explorado as mesmas espécies, e com a exceção que Faium A demonstrou, na similar abundância relativa, usando estratégias semelhantes e durante a mesma época do ano". Os restos de animais estão mal preservados em todo o Faium devido ao "intemperismo e diagênese em condições desérticas seguintes a fragmentação durante a carnificina". Krzyzaniak sugere que os grãos cultivados "foram provavelmente plantados em parcelas de monoculturas, separadamente colhidos e debulhados e armazenados em recipientes separados".
Em vista de uma série de fatores detectados ao longo das escavações, entre eles a falta de habitação nos sítios de Faium, pode-se concluir que, possivelmente, os habitantes locais vivam sazonalmente nos assentamentos: "Fizemos uma extensiva análise estatística das distribuições espaciais de cerâmica, ossos de animais e outros detritos, mas há pouco em distribuição para sugerir outra coisa senão acampamentos temporários de pessoas que dependiam fortemente de peixes e animais selvagens, além de (supostamente) ovinos e caprinos domesticados". O Faium "parece seguir um padrão muito diferente da evolução de outras áreas. Embora os campos de caçadores-coletores parecem ter se transformado rapidamente em comunidades rurais complexas, as pessoas do neolítico de Faium permaneceram aparentemente caçadores-coletores móveis", possivelmente devido a importância da caça e a produção flutuante na agricultura, acarretando em uma menor sofisticação perante os assentamentos do sudoeste do deserto ocidental ou da cultura Badariana. Além disso a variação do nível do lago, possivelmente inviabilizou assentamentos permanentes: "Dada a variação substancial anual nos níveis do lago e o gradiente relativamente raso da área Faium, a localização das áreas agrícolas podem ter variado o suficiente a cada ano para fazer aldeias permanentes inadequadas (...) Pose ser importante, nesse contexto que, aparentemente, não houve grandes assentamentos permanentes em Faium até o Império Médio".
Segundo as pesquisas arqueológicas não houve sinais de práticas religiosas ou a presença de elementos hierárquicos, no entanto, isso não implica que não existissem, especialmente porque a complexidade econômica maior implica em uma organização social e estrutural maior; ausência de túmulos também dificulta os estudos acerca das características físicas dos faiumianos.
A presença de conchas (do mar Vermelho e Mediterrâneo), turquesa (Sinai), amazonita (Tibesti no Saara ou colinas do mar Vermelho) e um dente de tubarão (Mar vermelho) evidenciam contatos comerciais com outras regiões: "Se o contato entre as três tradições pré-dinásticas do Egito (Alto Egito, o Dental e o Deserto Ocidental) foi uma força importante na emergência de uma cultura nacional egípcia com as primeiras dinastias, então é absolutamente essencial que compreendamos o contexto social e econômico de bens como contas - bens que apontam para intercâmbio social e todo o corpo de ideias, relacionamentos e até mesmo mitos que muitas vezes acompanham intercâmbio". Há teorias de que Faium e Merimde, aparentemente contribuíram para o desenvolvimento de sítios tardio como El-Omari e Maadi; outras teorias afirmam que estes sítios tiveram uma origem comum: "As muitas analogias já observadas entre as culturas Merimdana e a Faium A deixam pouca margem para dúvida de que elas estão intimamente relacionadas umas as outras e são, sem muita dúvida, descendentes de um ancestral comum ou a combinação de antepassados".


Cultura Moeriana
A cultura Moeriana desenvolveu-na região de Qasr al-Sagha entre 4300-3700 a.C. e foi identificada durante as escavações de Kozlowski e Ginter na área: "As diferenças são marcadas, a tal ponto que pode-se dizer que a parte posterior da sequência neolítica representa uma cultura distinta, provavelmente de origem diferente". Acredita-se que tenha se originado de deslocamentos populacionais do Deserto Ocidental: "A Moeriana do Neolítico Superior da segunda metade do milênio IV a.C. pensa-se ser atribuída ao deslocamento de pessoas do Deserto Ocidental (...) A sequência cronológica das culturas no Faium mostra que influência de duas regiões atingiram o Faium em períodos separados, primeiro do Levante depois do Deserto Ocidental". Além disso, achados arqueológicos análogos das culturas Faiumiana e Moeriana são possíveis evidências de contato entre ambas as culturas, embora sua cerâmica e indústria lítica tenha sido diferente: "Tanto em relação aos inventários líticos, bem como os tipos de cerâmica dos sítios da Moeriana diferem na forma daqueles da Faiumiana de maneira essencial".
Os sítios do período são caracterizados por lareiras, restos faunísticos e artefatos líticos e estão localizados em uma formação correlacionada a uma fase de recessão da seca: "abundantes traços de assentamentos são encontrados na parte leste da área investigada". O sítio mais importante dessa cultura foi QS VIIA/80, um sítio caracterizado por duas fases ocupacionais e a presença de habitações: "em ambas as camadas principais da cultura e em todas as unidades estratigráficas, ocorreu um material culturalmente e tecnologicamente bastante homogêneo (artefatos de pedra, cerâmica), representando a fase final (...) pode ser assumido que a área próxima aos locais abrigados para dormir diferiam em forma funcional da área de atividades domésticas diretamente pelas lareiras". O sítio QS VID/80 consistia em um forno rodeado por cerâmica e material lítico coberto por uma camada de arenito, argilito e calcário organogênico.
A indústria lítica era composta por ferramentas de sílex ou quartzo e suas principais formas foram lascas (retocadas ou não), lâminas retocadas, perfuradores, microlâminas e lamelas retocadas, lâminas apoiadas, raspadores laterais, ferramentas entalhadas e denticuladas e bifaciais. A cerâmica era produzida com argila terciária e tinha como principais formas tigelas hemisféricas com paredes arredondadas, vasos com barriga hemisférica/esférica e asas invertidos, vasos de perfil S, potes com pescoço cilíndrico e asas invertidos ou engrossados, vasos profundos com fundo arredondado e vasos com fundo cônico; a cerâmica identificada em QS VIIA/80 foi dividida em quatro grupos: grupo I é marrom avermelhado ou preto com textura porosa, superfície externa ligeiramente alisada e temperamento a base de plantas; grupo II é vermelho, marrom ou preto com menos temperamento com plantas; grupo III é vermelho ou marrom escuro, possivelmente produzido com sedimentos lacustres, e era temperado com areia; grupo IV é vermelho-acastanhado com temperamento a base de areia grossa. A economia era baseada na pesca (tilápias, Clarias, percas, Synodontis), caça (gazelas-dorcas, aves aquáticas) e pecuária (ovinos, caprinos).


Baixo Egito

Segundo Butzer "A baixa densidade de assentamentos nas áreas entre Mênfis e os sítios do Alto Egito pode ser resultado do grande tamanho das naturais baixas fluviais no Médio Egito (...) Além disso, a intensidade dos assentamentos modernos no Médio Egito é tal que restos primitivos são provavelmente obscurecida". Muitos sítios do período possuem características comuns que identificam ligações entre os sítios como residências circulares/ovais, silos e sepulturas.


Cultura Merimde

A Cultura Merimde (Merimdana ou Merimda) foi uma cultura da parte ocidental do Delta do Nilo que desenvolveu-se entre 5000-4100 a.C. no sítio de Merimde Beni-Salama (em torno de 4300-4100 a.C. sua população situava-se entre 900-2000 habitantes); segundo datas obtidas no sítio, tal cultura possuiu relação com Faium: "as datas de 5200-4500 a.C. são congruentes com a visão de que Merimda, em seus estágios iniciais, estava intimamente associada com o Faium Neolítico".
O sítio de Merimde Beni-Salama era "idealmente situado para aproveitar tanto a generosidade das pastagens semiáridas fora do Delta e a promessa de aluvião do rico Nilo". Possuía cerca de 200.000 m² e está dividido em cinco camadas ocupacionais:

  • Camada I: fase ocupacional relativamente curta, pois a grande presença de areia (em certo ponto coberta com uma camada de poeira preta) é sinal de que houve mudanças climáticas; Mortensen compara essa evidência com situação semelhante em El-Omari: "Em El-Omari este episódio climático não causou qualquer mudança aparente, mas no Merimde pós-aluvião os colonos diferiram igualmente em termos de cultura material e costumes daqueles do Período I". Túmulos no interior do sítio, assim como lareiras, postholes e postes de madeira (indicações de tendas ou cabanas) são visíveis.
  • Camada II: foram erigidas, de forma mais densa, lareiras (circulares ou ovais, besuntadas com lama, entalhadas com vãos ocos para bandejas e firedogs), cabanas ovais de madeira e vime e abrigos em forma de ferradura "com a extremidade aberta normalmente para o sudeste, longe dos ventos fortes do oeste que prevalecem nesta região"; silos forrados com cestas (como os de Faium) e túmulos (os mortos eram forrados com esteiras; as crianças eram jogadas em valas de detritos) foram identificados por todo o assentamento.
  • Camadas III-V: o sítio neste período possui grande densidade e é caracterizado por habitações ovais com degraus (de madeira ou osso), abrigos em forma de ferradura e recintos cercados; a justaposição dos edifícios protegeram o assentamento da areia trazida pelo vento e sua organização e construção evidencia uma comunidade estritamente sedentária.


A industria lítica é formada por machados cilíndricos alongados, machados trapezoidais, foices, pontas de flecha, raspadores, furadores, cabeças de clavas esféricas ou em forma de pera (possível evidência de conflitos com comunidades vizinhas), facas e serras unifaciais. Figuras antropomórficas de barro, moinhos de mão, mós, paletas (calcita, granito, pedra basáltica preta), vasos de pedra (basalto, diorito), implementos feitos com osso (furadores, arpões), marfim e chifres, pequenos objetos em forma de ovo (calcário) interpretados como pesos, um fuso e joias. A cerâmica foi dividida em três tipos: cerâmica (camada I; composta por tigelas, copos e bacias) vermelha ou amarela-acinzentada polida, com temperamento de palha picada e decoração com padrões produzidos com espinhas de peixe; cerâmica (camada II; composta por cálices e copos com pés altos) preta polida com temperamento a base de palha, protuberâncias e semelhança com achados de El-Omari e Faium; cerâmica (camadas III-IV) semelhante a de Faium.
A economia merindana era baseada na caça (auroques, antílopes, gazelas-dorcas, hipopótamos, gatos e porcos selvagens, hienas, chacais, raposas, leões, doninhas, lebres, ouriços, musaranhos, ratos, gerbilos, gerbos, tartarugas, crocodilos, aves), pesca (peixes, mexilhões bivalves e mariscos), pecuária (ovinos, caprinos, bovinos e suínos) e agricultura (trigo, sorgo, cevada, ervilhaca, Rumex).
A partir da segunda camada ocupacional de Merimde foram evidenciadas diversas características semelhantes entre Merimde e o Faium, especialmente a industria lítica e a economia; alguns acreditam que a cultura Faiumiana originou-se em Merimde, enquanto outros imaginam que ambas descendam de ancestrais comuns provenientes da própria África (Núbia) ou do Oriente Médio (Vale do Jordão): "Merimde não é significativamente diferente das aldeias contemporâneas na Palestina, Chipre, e Mesopotâmia e apresenta nenhuma das características distintamente egípcias de povos badarianos". No seio merimdano foram evidenciados elementos provenientes tanto do Oriente Próximo (machados lascados, enxós, clavas, vasos com pés, estatuetas e panelas de cabo longo de argila, poços de lama engessada para celeiros, decoração de vasos, criação de suínos, caprinos e ovinos, cultivo de trigo, sepultamento de mortos dentro do assentamento) como do Deserto Ocidental (pontas de flechas de base côncava, culto ao gado, machados cilíndricos, alinhamentos megalíticos, costumes habitacionais e fúnebres) o que indica contatos culturais entre estas regiões e Merimde.
Em conformidade com as cabanas e túmulos produzidos por esta cultura, supõe-se que não houve estratificação social; nos túmulos raramente houve bens, e quando presentes consistiam em grãos ou pingentes. A presença de hematita, material inútil para as atividades cotidianas, é uma possivel evidência de práticas rituais; ossos de hipopótamos também foram possivelmente utilizados em rituais.


Cultura El-Omari
A cultura Omariana (El-Omari) desenvolve-se entre 4600-4400 a.C. e é conhecida a partir da aldeia de El-Omari (subdividida em A, B, C, D, E, F, Fa e G) e do sítio de Gebel Hof, localizados próximos da cidade de Helwan a uma distância significativa do Nilo: "Em termos de geomorfologia, El-Omari não foi um adequado ambiente do rio Nilo; porém, durante o período subpluvial do Neolítico ele forneceu importantes e atraentes recursos ecológicos e geológicos para seres humanos viverem lá". Segundo Debono e Mortensen a cultura desenvolveu-se entre as cultura Merimde e Maadi-Buto, contudo, estimativas de Kaiser e Hassan afirmam que tal cultura desenvolveu-se contemporaneamente com a fase final de Merimde, e Hassan complementa afirmando que El-Omari é 500 anos mais velha que Maadi-Buto. Além disso, foram constatadas semelhanças entre as indústrias líticas de Merimde, El-Omari e Faium, embora isto ainda não possa ser visto como prova conclusiva de ligação entre os sítios em vista da enorme quantidade de divergências entre as culturas.
Especula-se que, embora estas culturas tenham presumivelmente uma origem africana, ela foram influenciadas em sua cerâmica pelo estilo do neolítico palestino e, em certo ponto, também em sua economia. Midant-Reynes, assim como Debono e Mortensen, em vista da presença de artefatos do final do paleolítico nos sítios neolíticos e a constatação de que houve uma cultura epipaleolítica na região de Helwan, supõe-se sem muita contradição de que os habitantes de El-Omari foram descendentes de caçadores-coletores do período anterior.
El-Omari, uma aldeia de 375.000 m² teve quatro fases ocupacionais, as três primeiras caracterizadas pelo uso parcial do sítio e a presença de covas com ou sem cestas o que indica que o sítio foi utilizado para armazenar grãos, e a quarta fase marcada pela ocupação total do sítio e as primeiras evidências de habitações (lareiras, postholes); embora exista evidências habitacionais apenas na quarta fase ocupacional, imagina-se que, desde os primórdios, El-Omari foi um povoado agrícola sedentário. Alguns pisos de barro foram, segundo as evidências, possivelmente forrados, contudo, Hoffman sustenta a teoria de que na realidade este forro nada mais é do que o telhado que cedeu com o passar do tempo. Foram identificadas 43 sepulturas onde os mortos eram ocasionalmente revestidos com peles ou esteiras e acompanhados por bens; em uma sepultura foi identificado com um morto um cetro entalhado de madeira, o que possivelmente representa estratificação social.
A indústria omariana consiste em ferramentas produzidas em sílex e calcário silicificado (machados polidos, picaretas, lâminas de foices, pontas de flecha de base côncava e triangular, pontas, espigões, facas, serras, lâminas unifaciais de foices, lâminas retocadas e pedunculadas, raspadores, furadores e brocas, pontas dentadas e espigadas, micrólitos), osso e chifre (anzóis, punções, furadores, pinos, agulhas); paletas, vasos de pedra (basalto, calcita), almofarizes, amoladores, fusos, moinhos (quartzito), moedores (madeira petrificada), goivas, martelos, discos perfurados, pilões (madeira petrificada, quartzo, arenito, calcário, sílex), polidores e ornamentos (conchas, espinhas de peixe, ossos de animais e contas de casca de ovo de avestruz, madrepérolas, jadeite, calcário e basalto) foram identificados; gesso, ocre, galena e os primeiros exemplos do uso do cobre foram evidenciados. A cerâmica possuía diversas cores (marrom-amarelada/avermelhada, vermelha, preta, cinza ou esverdeada) foi polida (ocasionalmente coberta com ocre), temperada (palha, papiro ou areia) e não decorada; pequenas e grandes jarras fechadas, vasos (com base plana ou côncava), pratos ovais, bacias, bacias profundas, taças, frascos hemisféricos e copos pequenos são suas principais formas.
A economia de El-Omari era baseada na agricultura (cevada, trigo, linho), coleta vegetal (Lolium, Echium, centeio, ervilhas, favas, ervilhacas, figos, tâmaras, Rumex, Emex, Lathurus, Thesium, Polygonum, Colcynth, Lathyrus, Ceruana, Paspadlidium, Acacia, Tamarisk, Retanma, Suaeda, Pragmites, Desmostachya), pecuária (burros, bovinos, ovinos, caprinos, suínos, cães), caça (crocodilos, tartarugas, antílopes, hipopótamos, lebres, ratos, aves) e pesca. Postula-se que houve contato comercial com o Sinai e Mar vermelho em vista da presença de conchas, galena e possivelmente sílex cinza fino.


Alto Egito


Cultura Tasiana

A cultura Tasiana (aproximadamente 4500 a.C.), proposta em 1934 após escavações no sítio de Der-Tasa, têm constantemente sido debatida no mundo acadêmico, pois muitos imaginam que ela não exista e que possivelmente não passe de um componente da cultura badariana. Recentes descobertas realizadas no deserto oriental, no sítio de Wadi Atulla (datado entre 4940-4 455 a.C.), indicam que a cultura tasiana realmente existiu como uma entidade cultural a parte, embora divergências também tenham sido constatadas nas escavações do novo sítio. Material semelhante ao descoberto em Wadi Atulla foi identificado no deserto ocidental, no sítio de Gebal Ramlah (perto de Nabta Playa) e no vale do Nilo em uma caverna em Wadi el-Hol.
A cultura tasiana foi notável pela produção de cerâmica incisa marrom ou vermelha com a parte superior preta. Sua economia era baseada no cultivo de trigo e cevada. Em vista da tenuidade dos achados do período, William Matthew Flinders Petrie desenvolveu um sistema chamado de Datação Sequencial pelo qual a data relativa, se não a data absoluta, de um determinado local do período pode ser verificado através do exame das alças de peças de cerâmica. Uma vez que há pouca diferença entre a cerâmica Tasiana e Badariana, a cultura Tasiana sobrepõe-se ao local da cultura Badariana na escala entre S.D. 21 e 29 de forma significativa. A partir do período Tasiano em diante, parece que o Alto Egito foi fortemente influenciado pela cultura do Baixo Egito.
Cultura Tarifiana

A cultura Tarifiana desenvolveu-se na primeira metade do milênio V a.C. (aprox. 4800 a.C.) nos sítios de El-Tarif e MA2/83. No total produziu 5400 artefatos líticos (raspadores e raspadores laterais, lascas, lâminas, entalhes, denticulados, truncados, burils, micrólitos, ferramentas retocadas e bifaciais) de sílex; a cerâmica não possuía decoração e era temperada com palha, fibra, areia ou pedras trituradas. O conjunto lítico revela "Falta de elos fundamentais com as indústrias posteriores das culturas pré-dinásticas, pasticularmente da Naqadiana". Sua economia era baseada na caça e coleta.

Cultura Badariana


A Cultura Badariana desenvolveu-se entre 4400-4000 a.C. (podendo ter existido desde 5000 a.C.) em el-Badari, assim como em diversas localidades no Alto Egito e Deserto Oriental. Em seus sítios foram atestadas as primeiras evidências agrícolas do Alto Egito e esta cultura representou um avanço considerável: "Com esta cultura nós inesperadamente mergulhamos em linha reta dentro de um universo simbólico de riqueza incrível, refletindo uma sociedade cada vez mais estruturada e complexa, e esse processo foi acelerado enormemente ao longo do milênio IV a.C., eventualmente contribuindo significativamente para o surgimento da 'Civilização Egípcia'".
Os sítios badarianos eram, em sua maioria, sazonais e são compostos por poços cobertos com lama ou forrados com cestas (possivelmente silos), cabanas (construídas com materiais leves), algumas lareiras e currais. Os cemitérios badarianos localizam-se longe das áreas férteis do Nilo e possivelmente constituem assentamentos anteriormente abandonados; são formados por covas ovais ou circulares rasas contendo, às vezes, uma esteira e uma almofada de palha ou pele embaixo dos mortos que muitas vezes foram revestidos com mantas feitas com pele ou tecido. Os corpos eram depositados contraídos para a esquerda com a cabeça para o sul e, por vezes, trajavam tangas; inumações múltiplas, inumações animais (bovinos, chacais, gazelas, ovinos e caprinos) e espólio tumular (cerâmica, artefatos líticos e crânios animais) são atestados. Estratificação social tem sido associada a desigualdade na distribuição de espólio entre os túmulos e na localização separada dentro do cemitério de túmulos mais ricos.


A indústria lítica baseia-se em lâminas (raspadores, perfuradores) e bifaciais (machados, foices, pontas de flechas de base côncava) de sílex e quartzo; agulhas, alfinetes e furadores foram produzidos com ossos. A cerâmica badariana (taças e tigelas - foto ao lado) era penteada (produzindo ondulações), polida, temperada (palha), ocasionalmente decorada (estilos florais) e tinha paredes finas e coloração vermelha ou marrom com parte superior preta. Marfim (pentes, grampos, pinos, contas, colheres, estatuetas), cobre (ferramentas, pinos), argila (estatuetas), malaquita (pigmento), pórfiro, grauvaque, ágata, olivina e ardósia (paletas), basalto (vasos), cornalina, jaspe e esteatita (contas), casca de ovo de avestruz (vasos), alabastro, brecha e calcário modelado foram empregados. A primeira faiança egípcia, assim como os primeiros exemplos de vidro a base de esteatita foram desenvolvidos.
Sua economia se baseada na agricultura (trigo, cevada, lentilhas e tubérculos) e pecuária (ovinos e caprinos), práticas complementadas pela caça (crocodilos) e pesca. Conchas, cobre, lápis-lazúli, turquesa, marfim e pórfiro encontrados atestam contato comercial com o sul, o Delta, Mar Vermelho, Palestina e possivelmente Sinai.


Núbia
Cultura Cartum Variante

A cultura Cartum Variante desenvolveu-se entre 5800-3500 a.C. na Baixa Núbia, especialmente em torno da segunda catarata. Sua indústria lítica (baseada em quartzo, sílex e ágata) foi composta por micrólitos, entalhes, lâminas bifaciais, proto-goivas, denticulados, lunates, raspadores côncavos, perfuradores, mós, geométricos, pontas de flechas pedunculares e burils. A cerâmica tinha diversas cores (avermelhada, marrom clara ou cinza), temperamento (quartzo, feldspato, micáceo) textura granulada ou arenosa e decoração (linhas pontinhadas, linhas tracejadas retas, zigue-zagues). A economia era baseada na caça (avestruzes), pesca (peixes e moluscos) e coleta vegetal, o que indica que o estilo de vida era semi-permanente (os sítios também apontam para tal conclusão).
Cultura Abkana

A cultura Abkana desenvolveu-se entre 5000-3500 a.C. na Baixa Núbia, especialmente em torno da segunda catarata. Sua indústria lítica (baseada no uso de quartzo, assim como ocasionalmente quartzito, ágata, sílex, madeira petrificada) tinha como principais formas eram denticulados, micrólitos, pontas, lunates, raspadores laterais, machados, proto-goivas, implementos de moagem, lascas entalhadas, lascas e lâminas truncadas e retocadas, burils, brocas e entalhadores. A cerâmica foi produzida com lodo, tinha várias formas (tigelas, bacias, pratos, formas hemisféricas e ovoides), variedade de cores (marrom acinzentado cinza escuro ou preto), superfície polida ou levemente ondulada, temperamento (areia), revestimento (ocre vermelho) e ocasional decoração (linhas paralelas e impressões de triângulos, retângulos, zigue-zague e espinhas de peixe); o cemitério R-12 da Alta Núbia apresenta cerâmica com características distintivas da cultura Abkana. Sua economia era baseada na caça (gansos, gazelas, lebres, avestruz, burros e bovinos selvagens), pesca (peixe-gato, perca), criação animal (ovinos, caprinos e possivelmente bovinos) e coleta (ovos de avestruz, moluscos).
Grupo El-Melik

O grupo El-Melik e não pode ser comparada a nenhuma tradição cerâmica ou lítica da Núbia; sua indústria lítica é formada por denticulados, lâminas, lascas, micrólitos, lunates, formas geométricas e raspadores. Sua cerâmica era vermelha, temperada (areia, quartzo) e possuía ocasional decoração linear incisa.
Grupo Karmakol

O grupo Karmakol, principalmente através de sua cerâmica, possui afinidades com as culturas Cartum Mesolítico e Neolítico. Sua cerâmica (jarros com pescoço, tigelas hemisféricas profundas com asas invertidas) tinha asas em forma de anel, temperamento vegetal e mineral (mica, quartzo, areia), várias cores (marrom amarelado, marrom escuro, rosa amarelado e/ou alaranjado, avermelhado) e incisas barras verticais e ondulações.
Grupo Karat

O grupo Karat, principalmente através de sua cerâmica, possui afinidades com as culturas Cartum Mesolítico e Neolítico. Sua indústria baseia-se em seixos fraturados, raspadores finais, entalhes, lunates, micrólitos, lascas entalhadas, brocas, denticulados, burils, implementos de moagem, goivas e machados. A cerâmica fina, acastanhada, possui temperamento (areia) e decoração (marcas irregulares e simples padrões "dentes de lobo"), embora foram evidenciados vasos sem decoração.
Grupo Tergis

O grupo Tergis não pode ser comparada a nenhuma tradição cerâmica ou lítica da Núbia tendo ela desenvolvido líticos distintivos: produzidos com sílex e ágata suas principais formas são lunates, triângulos, trapézios, micrólitos, raspadores, entalhes, denticulados, lascas escamadas ou apoiadas, mós anéis de pedra. Sua cerâmica era vermelha, temperada (quartzo moído), polida na parte superior e possuía ocasional decoração linear incisa

Período pré-dinástico


O período pré-dinástico abrange de 4000-3000 a.C., momento caracterizado por um intenso processo de desertificação (as atuais condições climáticas egípcias foram estabelecidas), o início da agricultura integralmente sedentária e a padronização da cultura ao longo de toda o Egito; as práticas médicas egípcias mais antigas foram datadas deste período. Ao longo do pré-dinástico as culturas egípcias que compunham as comunidades ribeirinhas do Nilo começaram a se unificar e formar pequenos Estados ao longo do Nilo; segundo a Pedra de Palermo o Egito unificou-se em dois reinos um no Alto (os reis usavam a Coroa branca -Hedjet) e outro no Baixo Egito (os reis usavam a coroa vermelha - Deshret).

Oásis Dakhleh

Cultura Sheikh Muftah

Com base em quatro datas radiocarbônicas foi possível estabelecer que a cultura Sheikh Muftah desenvolveu-se entre 3800-2900 a.C., embora autores como McDonald acreditam que possa ter existido durante um período maior de tempo. Os sítios desta cultura (possivelmente sazonais) estão associados a sedimentos lacustres do oásis e podem ser divididos em dois períodos sujeitos ao contínuo processo de aridez enfrentado pela região a partir de 5000 a.C. Seis esqueletos identificados evidenciam desnutrição, trabalho excessivo e morte prematura, além disso, a ausência de cemitérios e de espólios tumulares é possível evidência de uma sociedade igualitária.
A indústria lítica se baseava em lascas produzidas com quartzo e suas principais formas eram furadores, raspadores, denticulados, pontas, lâminas de foice retangulares, facas bifaciais e pontas de flechas transversais; implementos de pedras de chão, fragmentos de cobre e casca de ovos de avestruz foram evidenciados. A cerâmica era temperada com xisto ou quartzo e raramente decorada, possuía superfície estriada e/ou ondulada e seu interior e asas eram enegrecidos. A economia local se baseava na pecuária (ovinos, caprinos, bovinos) caça (antílopes, gazelas, lebres, javalis) e coleta vegetal (frutas e gramíneas).


Baixo Egito
O período pré-dinástico é arqueologicamente muito mal representado no Baixo Egito devido em grande parte as condições geográficas da região: os sítios por estarem em contato direto com o Nilo tendem a serem encobertos por camadas espessas de sedimentos produzidos pela aluvião do rio. A disseminação da cultura maadiana em todo o Delta sugere maior uniformidade de conexões e cooperação em toda a região, além disso, segundo Hoffman "Do ponto de vista materialista, o mais próximo contraste entre o Alto e Baixo Egito neste momento estava entre o mercantilismo crescente no norte e uma sociedade conspiculosamente consumidora e politicamente orientada no sul. No Alto Egito, comércio e metalurgia definem o tom em locais estrategicamente localizados como Maadi, enquanto no Alto Egito, status social, sepultamento ritual público, e exibição dominaram a visão do mundo naqadano".

Cultura Maadiana

A Cultura Maadiana (ou Maadi-Buto) desenvolveu-se entre 3800-3200 a.C. (foi contemporânea de Naqada I-II) em sítios localizados no Delta e em Faium; Reynes e Seeher supõem, em vista do hiato ocupacional notado entre El-Omari e Maadi-Buto (4400-3800 a.C.), que possivelmente houve uma fase "pré-maadiana" que ainda não foi identificada. A cultura maadiana começou a declinar no final de Naqada II, possivelmente devido ao expansionismo naqadano, visto que a cultura Naqada ambicionava obter o controle das rotas comerciais com o Oriente; no começo de Naqada III, Maadi já não existia e muitos dos seus sítios foram reocupados, contudo, ainda hoje se isso foi realizado por conquista ou infiltração é ainda uma questão em aberto. A cultura maadiana representam um avanço significativo na complexidade social do Baixo Egito e, segundo evidências (cronologia, arquitetura e artefatos correspondentes) possivelmente deva ter se desenvolvido a partir de influências híbridas, ou seja, tanto egípcias como palestinas.


O sítio de Maadi consiste em "restos de uma cidade em expansão" formada por um sítio principal relacionado com um cemitério (76 túmulos) e um sítio secundário relacionado com outro cemitério (450 túmulos humanos e 14 animais); as principais características do assentamento são cabanas ovais, estruturas em forma de ferradura, casas subterrâneas, estruturas retangulares (possivelmente currais), lareiras e silos (localizados nas bordas do assentamento). Paliçadas e longas valas estreitas compunham parte das defesas da cidade, no entanto, há evidência de que ela foi saqueada e queimada, ao menos, uma vez. O sítio de Sais possui três fases principais (neolítica, transicional e pré-dinástica) que transcorrem o período de 4800-3500 a.C. e são caracterizadas pela presença de cerâmica (especialmente as últimas duas) e restos faunísticos de animais, plantas domesticados e peixes. Tanto Sais como Buto são importantes sítios para a compreensão da origem da religião na área, tendo eles, desde o pré-dinástico, servido como centro de propagação cultual.


O sítio de Buto, dividido em sete camadas estratigráficas (estando entre elas uma camada transicional), apresentou-se como importante sítio do Delta durante o período final da cultura maadiana tendo ele produzido abundante conjunto lítico e cerâmico comparável aos conjuntos encontrados em Maadi, Heliópolis e Wadi Digla. Segundo evidências localizadas nas primeiras duas camadas, os habitantes de Buto erigiram suas habitações com hastes de cana ou papiro; A camada transicional (marcada pela mudança de tipos de cerâmica) foi interpretada por alguns como evidência da substituição de uma cultura por outra, no entanto, há aqueles (Kohler e Wilkinson) que argumentam que tal camada influi em uma expansão da tecnologia de cerâmica do Alto Egito e não necessariamente a expansão da cultura Naqada como evidenciado pelos novos modelos localizados (foram produzidos localmente). Buto, com base em artefatos localizados, possivelmente possui conexões com culturas calcolíticas do corredor sírio-palestino e da Mesopotâmia, além disso, possivelmente serviu como porta de entrada dos produtos comercializados pelas rotas comerciais do norte.


Os cemitérios maadianos localizam-se fora dos assentamentos e neles estão contidos enterros de jovens, homens e mulheres depositados em covas ovais ou circulares rasas envolvidos em papiros ou peles com espólio (pentes, pulseiras, conchas, paletas, pérolas, pigmentos, cerâmica, vasos de pedra e restos animais); crianças foram enterradas no interior dos assentamentos em vasos; foram evidenciados os primeiros exemplos de sepultamento animal em Heliópolis exemplos de túmulos orlados com blocos de pedra e madeiras sobre as lápides foram constatados. Inicialmente os adultos foram enterrados de forma recurvada e com as mãos no rosto; posteriormente foram colocados na cova com a cabeça para o sul e com o corpo pro lado direito.
A indústria lítica era baseada em sílex, quartzito e cristal de rocha e tinha como formas principais raspadores, facas com bordas retocadas, furadores, punções, burils e microburils, cunhas, brocas, machados, cabeças de clavas, mós, machados polidos, pilões, almofarizes, lâminas torcidas, pontas de flechas espigadas, foices unifaciais, cutelos. Cobre (machados com arestas de corte fino, cinzeis, punções, furadores, anzóis, agulhas, alfinetes e fios), ossos, chifres e madeira (furadores, punções, pentes, braceletes, varas, alças e tampas) também foram manufaturados; pigmentos (ocre, malaquita), paletas cosméticas (grauvaque), vasos de pedra (alabastro, calcário e basalto) e cabeças discoides de clavas são evidentes.


A cerâmica era temperada (palha, areia, calcita), decorada (incisões ou pinturas geométricas) e, segundo evidência, foi produzida à mão e aperfeiçoada com rodas; aparentemente as partes superior e inferior eram produzidas separadamente e depois unidas. A cerâmica localizada em Maadi foi dividida em cinco grupos: jarros globulares pretos e geralmente polidos; jarros ovoides marrom-avermelhados polidos com um anel na base; vasos vermelhos com parte superior preta; vasos vermelhos polidos com pouco temperamento; vasos amarelos polidos sem temperamento. Há exemplos de vasos antropomórficos, grandes jarros para armazenamentos (marrons, vermelhos, cinzas ou pretos polidos com lavagem em vermelho ou branco) e vasos importados da Palestina, Síria e Alto Egito. Cerâmicas encontradas em Heliópolis possuem, segundo Mortensen, relação com tradições autóctones, assim como palestinas: "A tradição cerâmica de Heliópolis é claramente relacionada com a tradição anterior no norte, encontrada em Merimde, Faium e El-Omari mas também mostra traços da tradição palestina: tempero com calcário moído, uso de lavagem de cal".


A economia era baseada na domesticação animal (ovinos, bovinos, caprinos, suínos, burros, cães), caça (hipopótamos, ibex, castores, tartarugas), pesca (peixes, mariscos), agricultura (trigo, cevada, linho, lentilhas, ervilhas) e comércio; importavam produtos do Oriente Próximo (madeira de cedro, nódulos de sílex, cerâmica, ferramentas de pedra, resinas, óleos, vinho, cobre, basalto), Alto Egito (pentes, cerâmica, marfim, paletas, cabeças de clava) e Deserto Oriental (malaquita, manganês, cornalina, conchas, pérolas), assim como exportavam produtos para estas regiões: cerâmica, conchas e cereais para o Oriente; cobre, basalto e sílex para o Alto Egito.

Alto Egito
Cultura Naqadana

O período naqadano ou nagadano (4000-3000 a.C.) é caracterizado pela gradual evolução de tradições econômicas e socioculturais, maior hierarquização social evidenciada por diferenças crescentes em complexidade, tamanho e espólio tumular, trabalho artesanal mais elaborado e uma intensa agricultura mista no Vale do Nilo; no deserto há um estilo de vida nômade ou seminômade baseada no pastoreio, caça e coleta vegetal. É um momento de grande uniformidade em todo o Egito: "Uma das coisas mais impressionantes e intrigantes sobre o Antigo Egito é a aparente rapidez e abrangência com que centenas de aldeias desconexas e funcionalmente semelhantes foram transmutadas em uma unidade social, econômica e política organizada - o primeiro estado egípcio. Esta transmutação começou a cerca de 4 000 a.C., no sul e rapidamente se espalhou para o norte, abrangendo a maioria do Egito em 3 000 a.C."; "Em 4 000 a.C. o solto conjunto de artefatos indicativos da fase cultural Nagada I esteve em uso em grande parte do Vale do Nilo; pela fase de desenvolvimento conhecida como Nagada III, quase 600 anos antes do período faraônico, uma série de objetos típicos estava em uso em todo o país".


Cultura Amratiana (Naqada I)
Modelos de barro representando bovinos.A cultura amratiana (Naqada I) durou de 4000-3500 a.C. e foi principalmente atestada nos sítios de El-Amra (o primeiro sítio genuinamente amratiano) e Naqada, embora tenha subsistido em outros sítios importantes (Hierakonpolis, Abidos, etc.). Este período assisti a ascensão de elites regionais poderosas como evidenciado pelo espólio tumular sofisticado localizado em diversos cemitérios amratianos (especialmente o cemitério T de Naqada), contudo, como este processo ocorreu no Alto Egito é inconclusivo: alguns argumentam que a adoção de um estilo agrícola plenamente sedentário no Alto Egito, em vista da imprevisibilidade das cheias do Nilo, obrigou cidades e povoações unirem-se entre si em um sistema inter-regional que propiciou mudanças importantes nas condições econômicas e competição socioeconômica, além disso, impulsionou o gradativo surgimento de estados regionais e uma elite dominante (vinculada a seu poder político por formas ativas e simbólicas) dotada de contingente militar que geriu o novo meio econômico; outros argumentam que tal processo foi consequência da grande especialização artesanal ocasionada pelo comércio com regiões distantes (Oriente Próximo, Núbia).


Figurinha representando homem barbudo.Muitos sítios evidenciam fases ocupacionais distintas (o que indica que foram sazonais) e suas residências foram produzidas no estilo pau a pique ou com paredes de vime, embora haja evidências de que no final do período as edificações foram erigidas utilizando-se tijolos. Os sepulcros amratianos eram covas ovais onde os mortos eram depositados contraídos com a cabeça para o sul e o corpo para a esquerda, vestiam tangas, eram forrados por esteiras e, por vezes, possuíam almofadas de tecido ou couro sob a cabeça; enterros mais ricos possuíam projetos de sarcófagos de madeira ou argila e possuíam numeroso espólio tumular. Enterros de bovinos são evidenciados tendo estes possivelmente atendido a exigências rituais, pois em muitos túmulos ricos foram encontrados chifres.


A cerâmica vermelha com parte superior preta continuou a ser produzida embora a tendência foi de vasos vermelhos com decoração abstrata (geométrica) ou figurativa (animais, pessoas, barcos); decaiu entre D. S. 30 e 39 no sistema de Datação Sequencial de Petrie. Foram produzidos manufaturados em osso e marfim (colheres, furadores, pentes, punções, agulhas, figuras humanas com barba triangular e toca), pedra (lâminas bifaciais com borda serrilhada, facas romboidais, cabeças de clavas discoides, vasos de basalto, contas de cornalina, paletas geométricas e zoomórficas de grauvaque e ardósia) e cobre (pinos, arpões, grânulos, pulseiras e imitações de ferramentas), assim como faiança e esteatita vítrea.


Paleta cosmética zoomórfica.A economia era baseada na caça (gazelas, gansos, hipopótamos, crocodilos, elefantes, avestruzes), pesca, pecuária (ovinos, caprinos, suínos, bovinos, cães), agricultura (trigo, cevada, linho, ervilhas, ervilhacas, frutas) e comércio (obsidiana, cobre, vasos lápis-lazúli) com o Oriente Próximo (Palestina, Mesopotâmia, Afeganistão), Núbia e oásis. A cidade de Naqada era conhecida na antiguidade como "Nubt", que significa ouro, o que possivelmente indica que tal local prosperou durante o período graças a extração de tal minério do deserto.

Cultura Gerzeana (Naqada II)

A cultura Gerzeana (Naqada II) desenvolveu-se de 3500-3200 a.C. nas regiões antes dominadas pelos amratianos (a cultura amratiana prosperou por mais um tempo na Núbia) em um momento em que a precipitação médio regrediu no Egito o que influi em como o deserto foi incorporado à cultura. Neste período o número de assentamentos é reduzido e a então dominante Naqada é superada e possivelmente conquistada pela cidade de Hierakonpolis (mais ao sul); os sítios (agora murados com paredes de tijolos) e cemitérios assistiram um aumento considerável como resultado do comércio com o exterior, desenvolvimento urbano, cultural e social, expansão territorial, crescente poder das elites regionais (monopólio comercial, guerras, ideologia e controle de recursos estratégicos) e formação de grandes reinos no Nilo (Naqada, Hierakonpolis e Abidos são os principais) que conflitaram entre si por hegemonia e melhor acesso a terras férteis.; centros urbanos como Gebelein e Abadiya são eclipsados. A deterioração das condições climáticas possivelmente provocou migrações maciças das populações do deserto que, em meio a convergência com os habitantes do Nilo, provocaram a expansão da população e a necessidade de uma maior organização social para que houvesse adequada produção de alimentos.

Os túmulos naqadanos mais simples eram covas retangulares, ovais ou circulares com pouco espólio tumular; os mais elaborados eram retangulares e possuíam compartimentos construídos com tijolos para armazenamento do espólio. Caixões feitos com madeira ou cesta forrada com barro foram utilizados em inumações adultas, além disso, os corpos eram forrados com esteiras ou panos de linho; crianças eram sepultadas em vasos de cerâmica.
A economia foi baseada na agricultura (trigo, cevada, linho), pecuária (bovinos, caprinos, ovinos, suínos, burros, e cães), pesca, caça (perdeu muito de sua importância), extração mineral (cobre e ouro) e comércio (marfim, ébano, ouro, cobre, incenso, peles de gatos selvagens, óleos, pedras e conchas importados; alabastro, contas de ouro, faiança, lâminas, "cabeça bovídea" exportados). Partindo do pressuposto de que a população do Nilo era insuficiente para a irrigação artificial das lavouras, tal processo ocorria por meio de diques e bacias naturais, no entanto, há aqueles que imaginam que pequenos diques e canais foram erigidos para melhorar a distribuição da água. Durante Naqada II houve um intenso comércio de contas de lápis-lazúli entre o Egito e a Mesopotâmia que pode ser dividido em duas fases: na primeira fase o contato comercial provinha de uma rota pelo norte através da Palestina e outra pelo sul através de Hama; na segunda fase há contatos comerciais com assentamentos comerciais (Habuba Kabira e Tell Brak) no norte da Mesopotâmia. No momento da expansão gerzeana rumo ao Delta a influência do Alto Egito sobre o o norte do Sinai.

É evidente com base nos achados arqueológicos que no seio da sociedade gerzeana havia número ascendente de artesãos especializados que produziam produtos consumidos pela elite e também pelo comércio com o Oriente Próximo; estilos decorativos (bovinos, barcos) e artísticos (formas e tamanhos) característicos da civilização egípcia começam a ser aprimorados durante o período como evidenciado nos ornamentos da tumba 100 de Hierakonpolis (jazigo de um grande líder local); o sentimento religioso egípcio começa aflorar terminantemente (o primeiro templo egípcio é erigido em Hierakonpolis).
À cerâmica é atribuída valores de D. S. 40 a 62, além disso, é evidente sua diferença em relação aos estilos anteriores. Um nova textura, conhecida como "marl", é desenvolvida a base de carbonato de argila e cálcio; novos estilos (cerâmica D, L, R, e W) são criados: a cerâmica D é marrom-escuro sobre fundo creme com motivos decorativos abstratos (geométricos, barcos), animais e humanos pintados; a cerâmica R é marrom-avermelhada, temperada com palha, polida e decorada com motivos incisos; a cerâmica L é cinza-esverdeada ou rosa, temperada com areia e polida; a cerâmica W é produzida a partir de modelos maadianos tendo evoluído de formas globulares co alças distintas para formas cilíndricas com alças pequenas ou pintadas.

Modelo de barco em argila.Durante o período a gama de matérias primas utilizadas expande-se vertiginosamente: pedras coloridas, granito, sílex, calcário, alabastro, mármore, serpentina, basalto, brecha, gnaisse, diorito, calcita e gabro; a indústria lítica é composta por burils, lascas retocadas, raspadores finais, perfuradores, ferramentas apoiadas, cabeças de machados, bifaciais e entalhes. Paletas cosméticas (com relevo), vasos não-cerâmicos (pedra, marfim, cobre), joias (lápis-lazúli, conchas, faiança, madeira, marfim) armas, cabeças de clava em forma de pera, alfinetes (osso), pentes (madeira, osso, marfim) e figuras antropomórficas e zoomórficas (terracota) são visíveis entre os achados; uso de cobre (adagas, facas, enxós, machados, pontas de lança, arpões, anzóis, agulhas, anéis, pequenas ferramentas e ornamentos), ouro e prata é acrescido; esferas de ferro meteorítico são os mais antigos exemplos do uso de ferro no mundo.

Cultura Semaineana (ou Naqada III)


A Cultura Semaineana (Naqada III) desenvolveu-se de 3200-3000 a.C., (período idêntico ao período protodinástico do Egito) tendo sido marcado pelo surgimento dos primeiros hieróglifos, serekhs, narrativas gravadas em paletas, cemitérios realmente reais e irrigação, assim como pela unificação e formação do Estado egípcio; a elite egípcia estava neste instante completamente estabelecida, muitos sítios do Delta dedicaram-se exclusivamente ao comércio com o Oriente Próximo e neste momento o maior centro de poder era Abidos, embora Hierakonpolis tenha mantido muito de seu poder devido a seu acesso privilegiado as rotas comerciais do sul, assim como as minas da Núbia. Uma conotação puramente contextual (dinastia 0) é empregada para agrupar todos os até então conhecidos líderes egípcios de Naqada IIIb-IIIc, embora deve ser citado que estes não formaram uma dinastia concreta. Embora não totalmente aceite entre os egiptólogos, o termo dinastia 00 por vezes é atribuído para distinguir todos os líderes regionais atestáveis no Egito entre o período Naqada IIc-IIIa2.


Atualmente o processo de unificação do Alto e Baixo Egito é um fato ainda não conclusivamente compreendido, tendo deste modo surgido diversas teorias acerca de possíveis meios para que tal fato ocorresse: formação de Mênfis (adquiriu notória importância como centro comercial, administrativo e cultural) dominação gradual (mesopotâmica,, núbia, deltaica ou do Alto Egito), integração regional (alianças, guerras e trocas culturais), comércio (o que explicaria a razão pela qual alguns sítios do Delta foram abandonados), pressões populacionais (do sul para o norte) ou uniformidade religiosa.


Os principais centros políticos do período são Elkab, Hierakonpolis e Abidos, embora possivelmente outros Estados tenham surgido em torno de centros como Buto (não deixou de ser ocupado) no Delta, Abadiya, Tinis e Mênfis (seu cemitério localizava-se em Saqqara) no Alto Egito, Seyala e Qustul na Baixa Núbia; Naqada foi possivelmente politicamente incorporada por outro Estado; possivelmente estes Estados delinearam os chamados nomos, divisão administrativa do Egito na antiguidade. Os túmulos tornam-se cada vez mais ricos tendo sido construídos com tijolos e os mortos foram depositados em sarcófagos de madeira ou argila de forma contraída para a esquerda e com a cabeça para o sul; há frequência de inumações múltiplas e de crianças e os mortos eram acompanhados com rico e diversificado espólio tumular.


Os nômades do deserto oriental, possivelmente, devido a degradação das condições ambientais locais, atuaram como intermediadores do comércio do Egito com regiões do Oriente Próximo. Uma acentuada elevação da produção agrícola durante o período devido ao maior número de áreas cultivadas e da melhoria das habilidades empregadas. Marcas e serekhs em vasos são possíveis indicações de práticas administrativas; possivelmente o sistema de nomos começou a surgir neste momento.


Costumes religiosos (uso de estelas) assim como alguns deuses do panteão egípcio começaram a surgir durante o período: Hórus, Bat, Seth, Nekhebet e Min. Segundo estudos, constatou-se que a escrita hieroglífica começa a surgir durante o período (possivelmente baseada na escrita mesopotâmica) tendo sido estritamente homogênea em todo o Egito; arte e iconografia, ambas representadas em paletas cosméticas, também têm seus primeiros exemplos.


Até o período Naqada IIIa2 foram atestados em Naqada (cemitério T), Gebelein, Abidos (Cemitério U) Hierakonpolis (tumbas 100 e 11), Qustul (L24) e Seyela (137,1) túmulos possivelmente atribuíveis a importantes líderes regionais que emergiam do seio das importantes famílias da elite mercantil egípcia. Recentemente cerâmicas incisas, paletas (especialmente a paleta Tehenu) e um grafiti inciso nos Colossos Coptos têm produzido nomes de alguns possíveis reis locais que teriam governado até a ascensão dos reis tinitas: Órix, Concha, Peixe, Elefante, Touro, Cegonha, Canídeo, Padrão Cabeça de Gado, Escorpião I, Falcão I, padrão Min + planta, ? (perdido), Falcão II, Leão ... Iry-Hor, Ka, Escorpião II, Narmer; possivelmente existiram dois reis Touro, um identificado nos Colossos Coptos (Touro I) e outro identificado na Paleta Touro (Touro II). Na tumba do rei Escorpião I (túmulo U-j, Abidos) foram identificados grande número de bens assim como os primeiros hieróglifos conhecidos; tal rei também foi identificado em um grafite inciso de Gebel Tjauty que representa uma possível vitória de Escorpião I sobre outro líder regional: um homem está com as mãos amarradas para trás enquanto o vitorioso segura com uma mão a corda e com a outra uma clava.

Alguns dos primeiros líderes da dinastia 0 (naqada IIIb-IIIc) foram identificados através de seus serekhs: Falcão Duplo (Sinai e Delta), Hat-Hor (serekhs no túmulo 1702 em Tarkhan), Ny-Hor (serekhs em Tura E tarkhan), Pe-Hor (serekhs em uma cerâmica de Qustal, perto de Armant e em um grafite de Gebel Sheikh Suleiman), Hedj-Hor (serekhs no Delta Oriental e Tura) e Crocodilo (serekhs nos túmulos 315, 414 e 1549 de Tarkhan); possivelmente o rei Crocodilo tenha sido um usurpador durante o governo de Narmer. Alguns dos primeiros faraós egípcios tiveram seus jazigos localizados: Iry-Hor (túmulo B1-B2, Abidos), Ká (túmulo B7-B9, Abidos), Escorpião II (possivelmente quarta camada do túmulo B50 em Abidos ou túmulo 1 do local 6 em Hierakonpolis), Narmer (túmulo B17-B18, Abidos); Outro grafite de Gebel Sheikh Suleiman e duas cabeças de clavas pertenceram ao rei Escorpião II; evidências apontam que ele havia tentado unificar militarmente o Egito, contudo, não teve êxito em seu objetivo conseguindo, apenas, ampliar seus domínios para Mênfis. O reinado de Narmer é caracterizado por marcante evolução em diversos aspectos culturais egípcios; segundo teorias clássicas, foi durante seu reinado que o Egito unificou-se, tendo então muitas vezes ele sido atribuído como o primeiro rei propriamente dinástico; foi possivelmente o único a terminar na contínua rivalidade dos líderes tinitas com aqueles de Hierakonpolis, presumivelmente através do reconhecimento da autoridade de Nekhen com concessões do rei às famílias locais poderosas. Em Hierakonpolis foram identificados diversos artefatos pertencentes a Narmer, entre eles sua cabeça de clava, sua paleta e um cilindro de madeira com decoração incisa.


Núbia
Cultura Cartum Neolítico


A cultura Cartum Neolítico desenvolveu-se entre 4000-3000 a.C. em uma porção de sítios localizados no Sudão Central. Em cemitérios como Kadero I foram identificadas evidências (quantidade de espólio tumular nos jazigos e localização dos túmulos mais ricos) de estratificação social; figurinhas femininas e sacrifícios humanos são inovações importantes; crianças foram sepultadas em vasos foram dos cemitérios. A economia era baseada na caça (búfalos, hipopótamos, girafas, antílopes, lebres, crocodilos, tartarugas, mangustos, vervets, chacais, gatos selvagens, facoqueiros, leões e bubalinas), pesca (tilápias, clarias, percas, Synodontis e moluscos), coleta (Acacia sp., Celtis integrifolia, Elaeis guineensis, Hyphenaena thebacia, Ziziphus sp., Citrullus sp., Urochloa panicoides, Setaria sp., Sorghum verticilliflorum, S. bicolor ssp.) e criação animal (ovinos e caprinos).


A indústria lítica (baseada em rochas pré-cambrianas, seixos do Nilo, quartzo, quartzito, riólito, arenito, sílex e madeira petrificada) têm como principais formas os lunates, raspadores (laterais e finais), gravadores, goivas, lâminas, lamelas, entalhes, denticulados, furadores, lascas parcialmente retocadas, crescentes, burils, martelos, mós, machados, cabeças de clava, segmentos, celtas e pedras de chão; amoladores, pilões e paletas também foram identificados. Arpões, celtas, anzóis, facas, pentes curvados, agulhas, furadores, plugues nasais e labiais e contas foram produzidos com osso, assim como anéis de marfim e contas de cornalina. A cerâmica era suavizada ou polida, temperada (quartzo e plantas) e decorada (linhas retas incisas, utensílios triangulares impressos, linhas retas pontilhadas, zigue-zagues e impressões lineares); principalmente é formada por vasos globulares com a boca aberta e o fundo arredondado; exemplos de cerâmica vermelha com parte superior preta são evidentes.


Grupo-A
O Grupo-A desenvolveu-se na Núbia entre 3800-2900 a.C. entre Assuã e a Segunda Catarata, tendo ela sido considerada como a cultura mais importante da Baixa Núbia durante o milênio IV a.C. Foi sucessora das culturas Abkana e Cartum Variante, desenvolvendo-se contemporaneamente com a cultura Naqada que tendeu a influenciá-la: artefatos do Alto Egito foram importados ou imitados e os cemitérios do grupo-A continham rico espólio tumular. Entre o espólio tumular pode-se citar tigelas e pratos com superfície ondulada e incisões, vasos de paredes finas com padrões geométricos pintados em vermelho, tigelas e jarros egípcios para vinho, joias (pulseiras de marfim, plugues labiais, amuletos), seixos do Nilo, conchas de moluscos do Mar Vermelho, espelhos de mica, ferramentas (pedra, cobre e osso), cabeças de clava e queimadores de incenso, ovos de avestruz incisos, paletas de quartzito, almofarizes, moedores e estatuetas de cerâmica e lápis-lazúli femininas, selos e impressões de selos; queimadores de incenso de arenito localizados em Qustal continham cenas em baixo relevo que aparentam ilustrar faraós egípcios (os líderes utilizam a coroa do Alto Egito e aparecem ao lado de Hórus), contudo, na atualidade, supõe-se que tais líderes nada mais são que líderes locais núbios que, possivelmente, influenciaram os póstumos faraós do Egito.


Os túmulos eram ovais, circulares ou retangulares com um ou dois nichos laterais e foram tampados com grandes lajes de pedra; há exemplos de peculiares túmulos em forma de colmeia com duas câmaras, uma sobreposta a outra; o interior dos túmulos eram revestido com barro ou tapetes. Há presença de inumações múltiplas, assim como de inumações animais (cães, ovinos, caprinos, bovinos, gazelas); os corpos eram depositados de forma contraída para a esquerda com a cabeça voltada para o sul e foram envoltos em peles animais, linho ou esteiras.


A população total foi estimada em cerca de 20000 pessoas que viviam a base de caça, pesca, coleta, agricultura (trigo, cevada, leguminosas), pecuária (cães, ovinos/caprinos, bovinos), importação (queijo, grãos, azeite, cerveja, faiança, vasos de alabastro, cornalina) e exportação (marfim, madeira, ébano, incenso, pedras preciosas, ouro, animais exóticos e possivelmente gado) de produtos. Muitos exemplares de cerâmica produzida localmente tinham como finalidade imitar cestas (trançados) e cabanas (estrutura), tendo estes, muitas vezes sido revestidos com ocre ou tinta, incisos ou perfurados, polidos e suavizados; há exemplos de vasos com o interior negro, assim como exemplares completamente enegrecidos.

Filosofia

Sobre o legado Filosófico de kemet

7 Leis Herméticas

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