Gizeli Hermano

23/09/2019

Entrevista por: Hosana Elliot

Gizeli Hermano - Atendimento Belford Roxo e Nova Iguaçu

1. Por que vc acha importante abordar a saúde mental do negro nos dias de hoje?

Considero extremamente necessário para avançarmos, pois o racismo deixa marcas que muitas vezes nos impedem de acreditar em nós mesmos. Estamos mais conscientes do nosso lugar na sociedade, porém ocupar tais lugares tende a ser muito doloroso. Outro ponto de grande relevância é a situação social da população negra: maior parte da nossa população vive em situações de vulnerabilidade e violência. Os dois pontos apresentados demonstram um quadro de tensão psicológica. Tensão essa, que pode desencadear:estresse, ansiedade, depressão, entre outros transtornos.

2) Vc acha que ainda é difícil o acesso a terapias e ao cuidado da saúde mental para os negros, de acordo com falta de ajuda do governo, preconceito da sociedade e os próprios negros não aceitarem que possam ter algum tipo de transtorno mental?

Infelizmente, sim. Primeiramente porque como mencionado na pergunta, nos falta ações públicas voltadas para saúde mental. Segundo, a terapia por muitos anos ficou restrita a uma determinada classe social. Era algo distante da realidade da população negra,e por isso a não aceitação desse cuidado; Não fomos educados para isso. Com a ampliação da entrada de estudantes provenientes de regiões periféricas, a prática da Psicologia vem ganhando um novo recorte. Profissionais com consciência racial e social, conseguem entender a necessidade de facilitar o acesso a esse serviço.

3) Como podemos e onde podemos buscar ajuda de primeiro acesso ( quando se está em uma crise muito forte) com preço acessível?

Antes de mais nada, gostaria de dizer que é preciso está atento aos sinais. Uma crise muito forte, já vem sendo anunciada. Hoje com as redes sociais, temos muitos profissionais de Psicologia que ensinam a população a observar sinais de alerta. Orientando que sempre que esses sinais forem constantes, deve-se procurar ajuda. Instituições de Ensino que possuem o curso de Psicologia, oferecem atendimento gratuito para população. Existem centros sociais que oferecem atendimento com valor acessível. Além disso, muitos profissionais disponibilizam horários para atendimento com valor social, o ideal é perguntar ao entrar em contato. Em caso de pensamentos suicidas, o ideal é entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida, através do número 188. A ligação é gratuita.

4) Podemos dizer que os negros não conseguem falar ou trabalhar suas questões por não se sentir representados numa sessão que não há psicólogo negro?

Em grande maioria, sim! Existem vários relatos de pessoas negras, que não se sentem confortáveis em falar sobre questões raciais com Psicólogos não negros. Até porque poucos profissionais reconheciam essa demanda. Atualmente existe um grande movimento dentro da Psicologia, que amplia esse debate. É importante entender que a terapia é algo muito singular, é preciso perceber como se sente diante de cada profissional, ainda que seja negro.

5) A mulher negra cis e trans é pre disposta a ter mais transtornos mentais que os homens negros cis e trans?

Essa é uma pergunta bem ampla. Pois existem recortes significativos de cada grupo e cada transtorno. Quando falamos de depressão, por exemplo, o público feminino lidera o ranking. Acredito que por vivermos em uma sociedade machista, e os homens não aprenderem a lidar com as suas emoções, faz com que não percebam tais sofrimentos e não abordam esse assunto ou lhe fazem procurar ajuda. O que resulta no maior número de suicídios. Quando falamos de homens e mulheres trans, existe às questões raciais, sociais e de gênero que colocam essa população em maior vulnerabilidade.

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